Facilmente recordamos uma boa conversa. Isto acontece (também) porque temos demasiadas conversas inúteis, fúteis, superficiais, (des)necessárias. Uma boa conversa pode persistir no tempo, ganhando outro significado. Envelhece como o Vinho do Porto. As boas conversas já não se têm. As longas, já nem se fala. No tempo em que mais comunicamos, menos falamos, e menos conversamos.
No outro dia tive uma boa conversa. Daquelas inesperadas, como as melhores estórias para contar. Essa conversa trouxe-me alguma esperança, confesso. Saber que ainda há por aí alguém que o consiga fazer, mesmo sem contar de o fazer. Estas conversas permitem-nos soltar coisas que nunca dissemos, mas que sempre estiveram na nossa mente. Desengane-se quem pensa que uma boa conversa é saber falar. Ter uma boa conversa é, sobretudo, saber ouvir.
Ainda sou do tempo das boas conversas. Da hora marcada no café. Das noites que se alongavam por puro prazer – de boas conversas. Outros tempos, dirão. Mas porque pararam as boas conversas? As distrações constantes tomaram conta de nós. Até da nossa consciência. Vivemos o síndrome de perdermos algo que está a acontecer (FOMO). Na realidade, já só o nosso corpo se mantém.
As boas conversas fazem parte da nossa evolução. Do pessoal ao profissional, sou o que sou por ter tido boas conversas. Tive oportunidades na vida porque soube ter boas conversas. Tenho medo de não ser melhor por não ter boas conversas. Isso assusta-me verdadeiramente. Isso, e saber que as novas gerações não vão saber o que isso é.
Por isso, brindemos quando acontecer: desligar, ouvir, perguntar, e deixar o tempo trabalhar. Um brinde às boas conversas.
Artigo escrito por Mário Almeida